sexta-feira, 4 de março de 2011

Jimmy o Louco


Sempre quieto em um canto, ele era tão esquisito que até as crianças malvadas tinham medo de ridiculariza-lo. Dava calafrios olhar para ele, havia maldade em seus olhos.  Jimmy o louco, chamavam-no.
            Um dia o menino arrepiante foi morar em minha rua. Seus pais eram tão perfeitos que pareciam ter saído de um comercial de televisão. Ele realmente se destacava quando estava perto de seus pais. Dona Dulce, a vizinha fofoqueira de plantão, dizia que o menino era estranho porque via coisas que os nossos olhos não podiam ver, e sempre que falava sobre ele, fazia o sinal da cruz depois.
            Antes de dormir fecho bem a janela, deixo a porta um pouquinho aberta para que se acontecer alguma coisa, meus pais possam me ouvir, pego todos os meus bichos de pelúcia e coloco encima da minha cama, como uma barreira, rezo, deito, tento dormir, fico acordada até o cansaço ser maior que a sensação de estar sendo observada.
            Meus pais saíram pra jantar e me deixaram sozinha nesse sábado, acabei de olhar pela janela e vi que a casa de Jimmy está completamente apagada, tenho sono, mas dessa vez tenho que me proteger melhor. Vou pegar pacotes de bolacha e sucos de caixinha, vou me trancar na suíte dos meus pais, lá tem telefone, banheiro e televisão.       Acabei de acordar, por que estou no sofá da sala? Eu me tranquei no quarto dos meus pais! MÃE? PAI? Vocês estão aqui? Que barulho é esse? Preciso me esconder, preciso correr, preciso sair dessa casa, cadê as chaves? Por que não consigo achar nada? MÃE VOCÊ ESTÁ AI?
            Cai no chão desesperada, olhei para aquele corredor escuro, com uma luz no fundo bem fraca, só conseguia ver dois sorrisos perfeitos, já tinha visto antes, mas não conseguia lembrar em quem , dois pares de olhos brilhantes, me encaravam... Aquela não era minha casa. Comecei a rastejar para trás, mas sem conseguir parar de olhar para aquilo que chegava perto de mim.
            Quatro mãos me alcançaram, fechei os olhos, me levaram para um banheiro antigo, azulejado. Dentro da banheira tive coragem de saber quem estava fazendo aquilo, abri os olhos, os azulejos estavam sujos com o meu sangue, a agua da banheira estava vermelha, coisas faltavam em meu corpo, e ao lado da privada, encolhido, abraçando seus joelhos, chorando, Jimmy disse “eu te vejo”.
 Juliana Peccinini

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